ONDE NOS ENXERGAMOS PROLETÁRIOS?
A condição geral do proletário é essa: Ele não vive o seu projeto de futuro. As condições do futuro seu individual, imediatas, não são suas: para o proletário sua figura é a de alguém que deve favores, que deve submissão, que utiliza os meios de produção de outro, que tem de cumprir as perspectivas de futuro de uma hierarquia que lhe precede, para só depois desfrutar a possibilidade de construção de um futuro um pouco seu, construído muito mais a partir das suas opções de compra, do que de suas atitudes do cotidiano. É assim que os fins de semana e os feriados se consagram como palcos da liberdade e satisfação.
Ao ver o produto final da empresa em que trabalha, ele [o proletário] também não consegue admitir que o resultado final ( a mercadoria ) e a perspectiva de futuro daquela sua empresa ( por exemplo, o gerenciamento orçamentário, a função cristalizada da empresa, bem como sua hierarquia...), enquanto processo, são uma construção necessariamente social. Por não percebermos isso, tornamo-nos satisfeitos com a perspectiva de sermos, pelo menos, mercadorias que criam outras mercadorias.
O mérito, a burocracia, a família, a hierarquia, atrapalha e confunde as vistas: a construção necessariamente social do futuro não pode se instalar sob a perspectiva de um conflito coletivo, ela só aparece sob a égide de um conflito individual e privado contra o coletivo. É preciso de heróis e vilões. Assim o indivíduo de sucesso na vida é aquele que enfrenta individualmente as torrentes - sempre contrárias – do mundo perigoso que o cerca e se auto-analisa, a partir dos critérios mais circunstancialmente válidos para não se imiscuir com este mundo que o cerca. É o nosso herói... O exemplar vivo e heróico, de confirmação, de que sim(!), a construção social do futuro é possível e se segue a partir de um caminho de esforço individual contra o coletivo! É assim que podemos viver em paz com nosso próprio descompromisso... podemos nos estressar com tudo em volta sem nos misturar mos com os problemas e podemos fomentar ainda mais a divisão entre falar e fazer (pois se tratam de operações essencialmente coletivas). Enquanto cada vez mais somos – individualmente - responsáveis pelos nossos futuros individuais, nós somos tanto mais irresponsáveis pelo nosso futuro coletivo.
Muito bem e daí?
Toda essa possibilidade e articulação de sentido, de ver tudo sob o prisma dialéctico, não se expande pra além da análise pontual, daqui de quem escreve, e, daí de quem lê. Ler é bom, culturalmente falando, indica uma disposição maior do individuo para o debate sobre os problemas do mundo, mas nossos companheiros pro lado de lá da fábrica, pro lado de lá de dentro da sala de aula, pro lado de lá de dentro da companhia terceirizada não tem entendido muito o que vemos e anda se passando por ai... Eles se encontram sob as condições de explorados e alienados, sim, mas nós também...
Existe um elo que nos liga intimamente a esse proletário: nós não compartilhamos os meios de construção de nossos futuros. Nós assumimos um caminho individual de formação cultural e política em vistas de nos defrontarmos com o mundo... esquecendo que vivemos num país de uma educação e cultura cheia de contradições e rabos presos. Infelizmente, até a esquerda brasileira envereda nisso: pois fomentou por tanto tempo a chegada ao poder por meio de um “projeto popular”, que ao chegar no poder ( estou falando do PT, do projeto Lula/ e agora Dilma ) não pode crer no que via, na frustração de anos de construção e formação educativo-política. Ficou, novamente, perdida entre a falência de um projeto de futuro coletivo e frente a apropriação privada dos meios de consolidação de um projeto socialista para o nosso país, no qual o proletariado teria uma possibilidade de romper com a dicotomia Heróico-Vilanesca que se antepara nos critérios de felicidade do Capital.
Poderia concordar agora, com tantos outros companheiros de luta e dizer novamente: É preciso trabalho de base. Mas, acredito que essa afirmação deveria soar como redundância ao falarmos da luta social... Não adiantaria exercer tanta pressão pelo trabalho de base para uma base militante, por que não é muito bom, nem muito de esquerda, associar a idéia de trabalho de base, a mesma idéia de dever e eficiência que o nosso trabalho cotidiano já nos vende.
É com pesar, que vejo companheiros - desses que não precisavam incitar o trabalho de base alheio para realmente fomentá-lo - lutando contra os muros da burocracia estatal... não tanto por suas avaliações da conjuntura de nossa época sobre as possibilidades de lutas sociais - a partir das condições que o Estado nos trás num governo que mostra brechas de disputa - mas por que, sem perceber, estão contidos pelas paredes da burocracia, andam se atrelando aos ritmos e compassos da luta institucional e do espetáculo da democracia burguesa, que separa o poder do proletário não só pela dicotomia Teoria/Prática ( promessas e atos ) dos partidos de esquerda, mas também por questões espaciais e temporais: Brasília está cada vez mais longe... a cada 4 anos...
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