22 de nov. de 2011

Eu sou um Ovo podre...
Eu sou um novo podre...

O podre inodoro, insípido e translúcido

Novos podres estão por ai, em filas para exercer suas criativas profissões!
1 dúzia de ovos a cartela
2 dúzias de ovos pelo preço de uma
N-ovos novos todo dia pra se deliciar!

9 de set. de 2011

Mais que uma banda, um bando!




O Nome de algo diz muito sobre o que algo é, mas quem dá o nome de algo diz mais ainda... O nome, “Ponto Exclamação”, foi dado por um companheiro que hoje não está mais na banda... Está tocando por outras bandas, cujos ecos não nos chegam aos nossos ouvidos demasiadamente humanos. Sua memória, no entanto, continua presente e falar do Lincoln Marques é falar muito sobre as causas para o Ponto Exclamação existir.
O Lincoln Marques era o atípico jovem da cidadezinha de itupeva. Alguém que de fato caiu na BR, viveu as experiências de compartilhamento da vida e do dia-a-dia, sentiu a solidariedade inevitável entre as pessoas, seguidor das idéias de respeito da Natureza da religião Rasta e proeminente músico autodidata. Teve também seus enfrentamentos na vida contra uma série de preconceitos e moralismos de nossa sociedade, que faz mais alarde com um cigarro de Maconha do que com a disseminação incessante e descontrolada de Plantas e tantos outros alimentos transgênicos; nossas futuras causas de Câncer e tantos outros males... Enfim, era alguém com motivos de sobra pra ter também várias inquietações não só na cabeça, mas no seu modo de ser e de se expressar artisticamente.
Por mais atípico que fosse, ainda assim não era solitário. Vivia com muitos amigos e nutria, com a maior parte deles, um descrédito quanto à política institucional e quanto aos rumos do sistema em que vivemos... Sistema apressado como é esse, não vê grandes coisas em um bando de jovens que cantam, pensam e tentam contestá-lo. É um sistema que sobrevive da desigualdade e o Lincoln transmitia igualmente pras pessoas boas conversas, músicas...
Entendendo um pouco desse histórico do nosso companheiro, dá pra entender por que do nome da banda. Ponto Exclamação é um nome engraçado por que não tem o “de”, uma palavrinha que geralmente indica uma relação de posse ou de pertencimento de alguma coisa a outra... Perguntemos as pessoas quais são os pontos importantes de se discutir? Por quais pautas deveríamos estar exclamando? Não necessariamente essas duas perguntas são respondidas juntas e muito menos, apenas uma banda, as responde...
Talvez o melhor para caracterizar essa banda seja assumir seus limites. A banda Ponto Exclamação é um reflexo dessa juventude que sente que não tem voz pra formular seus questionamentos, que não é dona de suas próprias vozes, que se vê enganada pela mídia e pelas idéias do que é bom, bonito e barato. Mas ainda assim, é apenas uma banda de música que tem consciência de sua limitação artística e social, e sabe que é preciso muita mobilização para que as pessoas entendam que tem sido roubadas e exploradas a séculos.
Ao seu melhor estilo rap, rock, reggae, MPB, samba, funk entre tantos outros estilos e sonoridades deixo aqui a minha indicação musical cadê vez mais longe de toda obviedade que encontramos nesse mundão a fora!


25 de mai. de 2011

Acabou de me surgir na cabeça o seguinte questionamento: Qual é a primeira consequência tanto política quanto econômica de uma manifestação pública?

Trânsito, Fluxo, Ordem & Desordem

Se avaliarmos uma manifestação como uma passeata, por exemplo, sabemos que o efeito mais imediato, tanto político quanto econômico, é a diminuição do fluxo de trânsito de automóveis da cidade. É importante então que se pense o que é o trânsito, o fluxo e o carro... e posteriormente a idéia de ordem e desordem atrelada a esses, tão comumente, atrelados termos
Falamos e ouvimos, que aquela ou essas “Obras vão melhorar o fluxo do trânsito”. O Trânsito aqui é visto como um determinado modo de locomoção já estabelecido: o trânsito é o trânsito dos carros, das bicicletas, dos andarilhos, enfim, o trânsito visto sob uma perspectiva de determinado meio de locomoção e não visto sobre a perspectiva das pessoas, trabalhadores, estudantes, enfermeiros, carteiros, em trânsito, na sua diversidade em movimento.
Mesmo pensando num debate sobre o trânsito, ou numa mais correta utilização do termo Trânsito... aquilo que está em trânsito, por sua vez, é , contraditoriamente, também, algo que não pode assumir mudanças. Há algo em trânsito, mas sem transição possível, nem sequer possível de ser questionado, por parte de uma parcela de participantes. O trânsito parece ser, a uma primeira vista, estruturado-organizado para determinados meios de locomoção, caminhos e itinerários, e numa outra perspectiva, também, o trânsito é aquilo que está em constante movimento.
Chamar de trânsito padrões mercadológico-logísticos de movimentação, é conveniente, apenas, aos atuais influentes organizadores do sistema produtivo e seus representantes dentro da política institucional. Trânsito visto desse modo é o trânsito de uma interpretação pautada nas finalidades últimas do acúmulo de Capital
A idéia de fluxo, por sua vez, para um ou para outro sentido, só é possível quando imaginamos que algo passa, por algum lugar, portanto, tem um referencial. É por um canal que passa um fluxo-de-água, por um fio condutor passa um fluxo-de-elétrons. O fluxo também sempre deve estar ligado a algo que está em fluxo.
O trânsito, no entanto, pode assimilar ordem e desordem dentro de uma mesma forma: assim temos a desordem ou a ordem pelos fluxos contidos nas ruas, no qual, no fim das contas, carros estão em trânsito. Temos ordem ou desordem de fluxo dentro de um prédio, no qual trabalhadores transitam a pé. Temos ordem ou desordem nos céus, quando imaginamos o fluxo de aviões que passam por cima de nossas cabeças, mas que possuem uma organização de rotas, um determinado esquema já estipulado, vias aéreas.


Ordem e desordem

A idéia de desordem pública, contemporânea, fica diretamente associada a interrupção do fluxo intermediado pelo carro e pelo itinerário típico do trabalho-para-casa, ou da casa-para-o-trabalho (poderíamos dizer, por veze, do trabalho-ao-trabalho, pois hoje a expansão das divisas do tempo de trabalho em nossa sociedade e a descentralização de determinadas profissões, deixam-nos confusos se estamos ou não trabalhando). A idéia de ordem, pelo contrário, aproxima-se, não da idéia geométrica de harmonia ou outras referentes a ordem como princípio abstrato, mas da ordem estabelecida, um statum quo que mantém as pessoas enquadradas disciplinadamente pelos contornos e itinerários do dia-a-dia. Estes, por sua vez, são pautados pelas projeções do urbanismo e pela logística do fluxo de mercadorias.
Ao misturarmos a idéia de ordem matemática a idéia de ordem social, nasce um monstro moral que raciocina dedutivamente e só enxerga critérios binários (verdadeiro ou falso), acerca de questões que deveriam ser pautadas e discutidas pela sociedade comum um todo.
A idéia de trânsito, atualmente, corrobora com a perspectiva da ausência de participação e de debate público sobre política e economia. O trânsito, dessa forma mercadológica e logisticamente entendido, incluí a todos como indivíduos, mas não como participantes ativos que poderiam deliberar sobre as possibilidades de fluxo numa cidade. Ela impede, no final das contas, que pensemos e nos conflitemos com o nosso próprio modo de vida e os males que eles trazem a sociedade.
Por que o BlackBloc é como é?


Poucos leitores talvez tenham presenciado ou participado de uma passeata ou manifestação, revindicando uma pauta de interesse público. No nosso país e no mundo, manifestações ocorrem diariamente se opondo as opressões sofridas, de diversas formas, cujos alvos são trabalhadores, campesinos, jovens, negros, homosexuais, enfim, pessoas submetidas as estruturas densas de poder econômico-político que transformam a vida de todos nós a todo momento, por vezes sem percebermos.

Não obstante a diversidade de manifestações pelo mundo a fora, muitas pessoas, historicamente falando, debruçaram-se sobre essa diversidade de atos. tentando enxergar alguma relação que pudesse explicar por que, a tanto tempo, as manifestações públicas e legítimas de pessoas que se sentiam oprimididas pelo sistema dominante, quase sempre tinham como resposta não a obtenção dos direitos requeridos, mas sim o gesto repressivo do Estado e da polícia... que só saberia dialogar através de bombas de gás lacrimogêneo e carícias de cassetete.

Uma das formas de luta nascidas dessas reflexões sobre o enfrentamento entre a sociedade em manifestação e o aparato estatal foi o Black Bloc (Bloco Negro). Geralmente, associada aos movimentos anarquista e autonomista da década de 80 em diante, ela se caracteriza por uma forma típica de atuação em manifestações coletivas públicas.

Nas passeatas e nas ruas, o B.Bloc, a olhos avessos a reflexão, podem parecer apenas como mais um bando de baderneiros. Infelizmente, a visão mais geral de qualquer manifestação pública é essa: “são todos um bando de baderneiros”, parafraseando um não-colega de profissão. Mas essa classificação só ocorre pois as manifestações e passeatas de estudantes, jovens e trabalhadores, em geral, trazem mensagens concorrentes àquelas alardeadas pela grande mídia e acabam, assim, questionando, ainda que pouco, o próprio poder dos grandes meios de comunicação em comunicar e mais ainda em identificar problemas de fato preocupantes para sociedade.

Apesar da mídia possuir a função de disseminar idéias, ela também as filtra, seleciona e pode também, com seu poder de capitação de imagens, registrar determinadas cenas ou não, torna-las públicas ou não. Imaginemos, por exemplo, uma manifestação reivindicando determinada demanda estudantil, que tenha a presença ilustre de repórteres de TV, e a presença ilustre, mas não convidada da polícia... Pois bem, em tempos de acirramento dos conflitos, como houve muitos em nossa história, os meios de comunicação de massa e o aparato repressor de idéias e atos, agiram conjuntamente: os registros das cenas, que eram monopolizadas apenas pelos grandes meios de comunicação, jornais, e TV, serviam para identificar pessoas que estavam envolvidas com o movimento. O período da ditadura militar, em diversos países e aqui no Brasil possui diversos exemplos dessa “associação”.

Partindo da análise de situações históricas, como essa, o movimento Black Bloc encontrou algumas possíveis formas de resistir a essa grande barreira que é o poder de identificar e punir exemplarmente pessoas que participam de manifestações públicas legítimas, adotando um modo e um objetivo: um meio e um fim: Tanto para defender o direito que a passeata reivindica quanto para defender o direito ao ato em si.

O objetivo dos Black Blocs, portanto, é deixar claro que as manifestações e reivindicações populares devem ter espaço na sociedade e devem expressar suas mensagens ao máximo possível de pessoas, sem que isso signifique um problema de legalidade. Indissociado, teórica e praticamente desse objetivo está a idéia de que os movimentos reivindicatórios acabam tendo sua autonomia limitada pelos conflitos sempre tão revisitados com a polícia.

O meio de agir dentro dessa situação conflitante, ao mesmo tempo em que prosseguisse a manifestação legítima, seria, surgido qualquer início de enfrentamento com a polícia, que o enfrentamento fosse um conflito em que os manifestantes não se isolassem ou agissem espontaneamente. A perspectiva é de ação sempre em grupo, mesmo para o enfrentamento. Assim é que se justificam as vestimentas, geralmente, pretas e os panos tão característicos dos participantes dessas manifestações, eles servem para garantir a integridade contra as possibilidades de identificações isoladas. Um ativista de black bloc só quer ser reconhecido por sua pauta e é ela que impulsiona coletivamente os participantes do ato...

Posto isso, então, por que punir individualmente e exemplarmente um indivíduo de uma manifestação de luta por interesses públicos legítimos, como a necessidade de educação, o acesso a moradia, aos bens materiais mais básicos? Respondo imaginando que talvez seja essa a única forma de encontrar uma “ilegitimidade” no ato ou a única forma de fazer com que as pessoas, espectadoras do que se passou, engulam a idéia de que o protesto - como um todo - foi obra típica dos baderneiros de sempre. Pois, se há isolamento dos indivíduos no movimento, a mídia pode editar, recortar melhores enquadramentos da cena, que favoreçam a imagem da polícia como mantenedora de ordem pública, etc... Apesar de sabermos que, há muito tempo, a ordem que a polícia defende não é nem um pouco pública: ela defende uma ordem privada que priva as pessoas o acesso a educação, a saúde, a terra, e a uma série de direitos inalienáveis.

Na verdade, o enfrentamento contra bombas de gás lacrimogênio, uniformes e balas de borracha é, de fato, apenas um episódio de uma luta muito maior, que se dá a todo instante... na nossa escola, no nosso trabalho, nas nossas vidas, a qual chamamos luta de classes e que se manifesta por diversas formas.


O.L.P.

18 de abr. de 2011

A Arquitetura como uma mercadoria cultural?

Ou uma provocação sobre o trabalho e o movimento




Como diz o texto “A Indústria Cultural: O esclarecimento como mistificação das Massas”, a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. Ouçam as bandas e as enquadrem num perfil, num estilo; acompanhando isso, defina um estilo próprio de vestuário próprio a esse estilo musical favorito; defina igualmente filmes e apreciadores de filmes; toda a “produção cultural” estaria enquadrada a determinada institucionalização dos sentidos que temos da mesma. Poderíamos dizer que mesmo a audição e a visão, que nos levam a apreciar a música, o filme e o poema... estão, de alguma forma, conformando-se ou se enquadrando nessa sanha da semelhança.

É mais simples entendermos a dominação dos padrões culturais ao olharmos os exemplos típicos e cotidianos dessa dominação: Os Outdoors, Os Comerciais, Os Merchandising... Ao ouvirmos padrões musicais... No entanto, o que nos passa desapercebidamente é que a padronização cultural vigora até mesmo nos contornos arquitetônicos das cidades, agenciando, pra além do nossos olhos e ouvidos..também o nosso corpo inteiro. Assim, os estilos arquitetônicos da cidade louvam também determinados estilos característicos, a favor da reprodução de mercadorias e de determinadas trajetórias do nosso dia-a-dia.

Transpassando as limitações físicas de muros e contornos da cidade, as músicas, os comerciais, os jingles, alojam-se no inconsciente, sugerindo a todo instante: comprem isso ou aquilo... cumprem seu papel de servirem de máscaras do processo de produção da própria cultura e de tudo que existe no mundo.

A cidade é um ambiente de contatos conflitantes: o desejo imediato das pessoas tem como principal manifestação a sua pressa, refletida em sua trajetória cotidiana. O deslocamento é a primeira manifestação de nossa vontade individual e, como tal, é também um elemento de análise da conjuntura do cotidiano. As trajetórias com as quais nos conflitamos, em nosso dia-a-dia, nada mais são do que uma espécie de quadro, ou obra de um artista invisível e fantasmagórico. Esse artista é o Capital, alienando copiosamente o trabalho e, numa concepção mais material do conceito de trabalho, podemos dizer que o Capital é um sistema de alienação, tanto do movimento individual quanto coletivo.

O deslocamento que a classe trabalhadora reproduz em seu dia-a-dia é como uma prisão da experiência, uma conformação não só dos sentidos, mas também do corpo humano. Nos momentos em que a classe protesta e intervem com atos inesperados nas ruas, no seu espaço de trabalho, querendo transformar as relações que vivem, algo estranho ocorre para a maioria dos que estão conformados com o seu cotidiano individual e com a confiança da reprodução das funções de cada lugar que freqüentamos no nosso cotidiano individual: o “algo estranho” que acontece é justamente o piquete, a greve, o movimento que aparece agora e não aparecia antes.

A Arquitetura lida com estas questões e por isso podemos entender que ela também expressa a exploração do sistema ao qual estamos submetidos. Ela é um projeto que se instaura fisicamente no nosso dia-a-dia e que permite a criação de espaços freqüentáveis. Se há pessoas ali, há política. E o próprio projeto do espaço freqüentável - o pra que ele serve - pode nos denotar uma espécie de tentativa de aprisionamento dos movimentos do trabalhador. Como provocação podemos fazer a seguinte pergunta: é possível falarmos de um mercadoria espacial? Os movimentos individuais humanos estariam tão presos a reprodução do Capital que apontariam para uma espécie de valor de uso dos espaço?

A essas perguntas que poderiam surgir ao estudarmos a arte Arquitetônica, sobre o prisma das análises do texto de Adorno e Horkheimer “A Indústria Cultural: O esclarecimento como mistificação das Massas” respondo: não, a Arquitetura, assim como qualquer arte, não podem ser cristais funcionais que só expressam as destorções do Capital. Toda arte, assim como todo tipo específico de trabalho, é um movimento num espaço político de disputas.

Os espaços, por mais distintos que sejam, não são trocáveis como as mercadorias. Podemos alterá-los, e inevitavelmente fazemos isso, mas eles não expressão o definitivo aprisionamento dos seres ao sistema capitalista.

Termino, com toda certeza, incompletamente esse texto, imaginando a importância da frase de Rosa Luxemburgo: quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem

6 de mar. de 2011

ONDE NOS ENXERGAMOS PROLETÁRIOS?


A condição geral do proletário é essa: Ele não vive o seu projeto de futuro. As condições do futuro seu individual, imediatas, não são suas: para o proletário sua figura é a de alguém que deve favores, que deve submissão, que utiliza os meios de produção de outro, que tem de cumprir as perspectivas de futuro de uma hierarquia que lhe precede, para só depois desfrutar a possibilidade de construção de um futuro um pouco seu, construído muito mais a partir das suas opções de compra, do que de suas atitudes do cotidiano. É assim que os fins de semana e os feriados se consagram como palcos da liberdade e satisfação.

Ao ver o produto final da empresa em que trabalha, ele [o proletário] também não consegue admitir que o resultado final ( a mercadoria ) e a perspectiva de futuro daquela sua empresa ( por exemplo, o gerenciamento orçamentário, a função cristalizada da empresa, bem como sua hierarquia...), enquanto processo, são uma construção necessariamente social. Por não percebermos isso, tornamo-nos satisfeitos com a perspectiva de sermos, pelo menos, mercadorias que criam outras mercadorias.

O mérito, a burocracia, a família, a hierarquia, atrapalha e confunde as vistas: a construção necessariamente social do futuro não pode se instalar sob a perspectiva de um conflito coletivo, ela só aparece sob a égide de um conflito individual e privado contra o coletivo. É preciso de heróis e vilões. Assim o indivíduo de sucesso na vida é aquele que enfrenta individualmente as torrentes - sempre contrárias – do mundo perigoso que o cerca e se auto-analisa, a partir dos critérios mais circunstancialmente válidos para não se imiscuir com este mundo que o cerca. É o nosso herói... O exemplar vivo e heróico, de confirmação, de que sim(!), a construção social do futuro é possível e se segue a partir de um caminho de esforço individual contra o coletivo! É assim que podemos viver em paz com nosso próprio descompromisso... podemos nos estressar com tudo em volta sem nos misturar mos com os problemas e podemos fomentar ainda mais a divisão entre falar e fazer (pois se tratam de operações essencialmente coletivas). Enquanto cada vez mais somos – individualmente - responsáveis pelos nossos futuros individuais, nós somos tanto mais irresponsáveis pelo nosso futuro coletivo.


Muito bem e daí?

Toda essa possibilidade e articulação de sentido, de ver tudo sob o prisma dialéctico, não se expande pra além da análise pontual, daqui de quem escreve, e, daí de quem lê. Ler é bom, culturalmente falando, indica uma disposição maior do individuo para o debate sobre os problemas do mundo, mas nossos companheiros pro lado de lá da fábrica, pro lado de lá de dentro da sala de aula, pro lado de lá de dentro da companhia terceirizada não tem entendido muito o que vemos e anda se passando por ai... Eles se encontram sob as condições de explorados e alienados, sim, mas nós também...

Existe um elo que nos liga intimamente a esse proletário: nós não compartilhamos os meios de construção de nossos futuros. Nós assumimos um caminho individual de formação cultural e política em vistas de nos defrontarmos com o mundo... esquecendo que vivemos num país de uma educação e cultura cheia de contradições e rabos presos. Infelizmente, até a esquerda brasileira envereda nisso: pois fomentou por tanto tempo a chegada ao poder por meio de um “projeto popular”, que ao chegar no poder ( estou falando do PT, do projeto Lula/ e agora Dilma ) não pode crer no que via, na frustração de anos de construção e formação educativo-política. Ficou, novamente, perdida entre a falência de um projeto de futuro coletivo e frente a apropriação privada dos meios de consolidação de um projeto socialista para o nosso país, no qual o proletariado teria uma possibilidade de romper com a dicotomia Heróico-Vilanesca que se antepara nos critérios de felicidade do Capital.

Poderia concordar agora, com tantos outros companheiros de luta e dizer novamente: É preciso trabalho de base. Mas, acredito que essa afirmação deveria soar como redundância ao falarmos da luta social... Não adiantaria exercer tanta pressão pelo trabalho de base para uma base militante, por que não é muito bom, nem muito de esquerda, associar a idéia de trabalho de base, a mesma idéia de dever e eficiência que o nosso trabalho cotidiano já nos vende.

É com pesar, que vejo companheiros - desses que não precisavam incitar o trabalho de base alheio para realmente fomentá-lo - lutando contra os muros da burocracia estatal... não tanto por suas avaliações da conjuntura de nossa época sobre as possibilidades de lutas sociais - a partir das condições que o Estado nos trás num governo que mostra brechas de disputa - mas por que, sem perceber, estão contidos pelas paredes da burocracia, andam se atrelando aos ritmos e compassos da luta institucional e do espetáculo da democracia burguesa, que separa o poder do proletário não só pela dicotomia Teoria/Prática ( promessas e atos ) dos partidos de esquerda, mas também por questões espaciais e temporais: Brasília está cada vez mais longe... a cada 4 anos...

18 de fev. de 2011

Em sampa... tá 3 conto o Busão!


O que mais entristece, quando vejo um movimento pelas ruas a protestar por direitos legítimos, é ouvir os comentários dos que não estavam por lá. A “crítica” a distância evita os riscos e conserva o corpo inerte e inteiro!
Sob a receita pronta do “não precisava chegar a esse ponto”, do “existem outros meios”, um dos achos e não achos nossos de cada dia, nos mostramos defensores da pomba branca da paz e da intuitividade individual na resolução de todos os problemas do mundo (!), sejam quais forem eles. Da organização da vida pessoal as incumbências do trabalho ou - de rabeira - na organização de uma marcha ou protesto que passe na TV, o engenho individualista lampeja e dá suas saídas...
A receita da receita é simples: seja esperto e evite os riscos.
Pra quem já participou de um ato público, de uma luta coletiva e sofreu repressões por tal atividade, sabe muito bem isso. A agonia dos revoltados a distância vai além do fato de não poder estar presente no movimento. O foda é não conseguir fazer trabalho de base em nossa própria casa...


LONGA VIDA AOS PROTESTOS DOS ESTUDANTES E TRABALHADORES!
"Quem não se movimenta não sente as correntes que o prende"


para mais informações sobre o ato: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pm-reprime-com-violencia-ato-contra-aumento-das-tarifas-de-onibus-em-sp.html

16 de fev. de 2011

A Pólis
Itupevenses!


Itupeva, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A todo instante, ao falarmos de política, instituições públicas ou iniciativas sociais coletivas, já nos vem a sensação de que o assunto de alguma forma se relaciona a corrupção ou de algo com poucas possibilidades de funcionar direito. Esse, de fato, é o nosso sentimento, a nossa constatação, que vem acompanhada com o pesaroso desânimo no tocante a tudo que se relaciona com o Público: pergunte ao estudantes, aos secretários do funcionarismo público, pergunte ao vereador mesmo, ao anarquista inveterado, ao descompromissado, pergunte ao trabalhador comum...

Todos fazemos parte desse grande público, que assiste a tragédia da política no cotidiano, mas, ao mesmo tempo, não reconhecemos devidamente o nosso próprio papel nisso tudo. Aos poucos, as pessoas e o próprio espaço onde trabalham e atuam vão ganhando a marca da frustração e do desânimo. Os funcionários públicos e os usuários dos serviços públicos, por exemplo, encontram-se então travados com o problema crônico de uma “política sem política”.

“Política sem política”, por que a política, que deveria estar relacionada a um debate público, amplo, entre iguais, sem pressa eleitoral, fica cada vez mais perdida na nossa e em tantas outras cidades, sobrevivendo entre um paternalismo e clientelismo típico de nossa região.
Somos, assim, paternalistas por acostumarmos a ver políticos institucionais como os únicos capacitados a decidir e entender sobre os rumos dos problemas públicos. Seriam para nós, como papais do povo, reorganizados a cada 4 anos, quando, finalmente, seus filhos podem abrir a boca com algum resultado. Clientelistas por acreditarmos que tudo que esse papai faz é uma obrigação moral: se não dá, a gente chora e berra pra o primeiro infeliz que nos apareça na frente, tal como fazemos na demora de um hambúrguer, ou num serviço privado mal prestado. Geralmente, o funcionário do balcão mais próximo ( o elo mais fraco, o testa de ferro, o ouvido de pinico) é quem suportará nossa necessidade de suprir essa revolta pontual, tão mais intensa quanto menos transformadora da situação pela qual passamos. Depois da revolta episódica, já podemos voltar a criticar a política nacional, os estudantes em passeata, os sem terra, os vagabundos, os grevistas e etc...

Na pólis, itupevenses, pendulamos entre essas duas figuras: o paternalista e o cliente. Não deixam de ser dois modos de lidar com o público, nos dois sentidos da palavra... paternalistas e clientelistas ao lidarmos com o público que nos rodeia; paternalista e clientelistas ao lidarmos com a esfera pública, com todas as instituições públicas que também nos rodeiam, com todas as tomadas de decisão que afetam a nossa cidade e que também nos rodeiam...
Rodeiam, rodeiam, rodeiam, rodeiam... (!) E nesse touro brabo... o itupevense permanece se equilibrando. Erro do Boi, erro do peão... Política não combina com rodeios, não combina com esses bois ferrados pela marca da burocracia, dos ofícios e dos carimbos... isso não é política, isso é desculpa esfarrapada pra impedir uma compreensão mais realista e participativa a cerca dos problemas da nossa cidade e, por que não dizer, do mundo.
Compreendendo que há uma contradição mal resolvida entre assistir individualmente os problemas que nos rodeiam e a resolução dos mesmos que se dá de forma, necessariamente, coletiva e pública, num espaço público e aberto – entendendo isso é que vem a mente algumas perguntas e um apelo: Será que política é só isso mesmo? Será que não andam mantendo esse Monstro Burocrático, Corrupto Feio e mal Feito pra poder controlar a participação popular nos rumos da política local e nacional, para nos desestimular a levantarmos nossa voz? Afinal, dizem que andam “fazendo algo por nós”... andam “investindo em educação”, por nós... que andam “melhorando a saúde e a aquisição de remédios”, por nós... “responsabilizando-se” pela desigualdades sociais, por nós... destinando verbas pra lá e pra cá, por nós... que tem levado cultura igualmente, por nós... que tem tratado as demandas de empresários com o mesmo apreço e disponibilidade que trata a dos trabalhadores assalariados, por nós (!) ... Será mesmo? Não sei não, só me cabe o apelo: a Pólis Itupevenses!




Orlando L. Pimentel