18 de abr. de 2011

A Arquitetura como uma mercadoria cultural?

Ou uma provocação sobre o trabalho e o movimento




Como diz o texto “A Indústria Cultural: O esclarecimento como mistificação das Massas”, a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança. Ouçam as bandas e as enquadrem num perfil, num estilo; acompanhando isso, defina um estilo próprio de vestuário próprio a esse estilo musical favorito; defina igualmente filmes e apreciadores de filmes; toda a “produção cultural” estaria enquadrada a determinada institucionalização dos sentidos que temos da mesma. Poderíamos dizer que mesmo a audição e a visão, que nos levam a apreciar a música, o filme e o poema... estão, de alguma forma, conformando-se ou se enquadrando nessa sanha da semelhança.

É mais simples entendermos a dominação dos padrões culturais ao olharmos os exemplos típicos e cotidianos dessa dominação: Os Outdoors, Os Comerciais, Os Merchandising... Ao ouvirmos padrões musicais... No entanto, o que nos passa desapercebidamente é que a padronização cultural vigora até mesmo nos contornos arquitetônicos das cidades, agenciando, pra além do nossos olhos e ouvidos..também o nosso corpo inteiro. Assim, os estilos arquitetônicos da cidade louvam também determinados estilos característicos, a favor da reprodução de mercadorias e de determinadas trajetórias do nosso dia-a-dia.

Transpassando as limitações físicas de muros e contornos da cidade, as músicas, os comerciais, os jingles, alojam-se no inconsciente, sugerindo a todo instante: comprem isso ou aquilo... cumprem seu papel de servirem de máscaras do processo de produção da própria cultura e de tudo que existe no mundo.

A cidade é um ambiente de contatos conflitantes: o desejo imediato das pessoas tem como principal manifestação a sua pressa, refletida em sua trajetória cotidiana. O deslocamento é a primeira manifestação de nossa vontade individual e, como tal, é também um elemento de análise da conjuntura do cotidiano. As trajetórias com as quais nos conflitamos, em nosso dia-a-dia, nada mais são do que uma espécie de quadro, ou obra de um artista invisível e fantasmagórico. Esse artista é o Capital, alienando copiosamente o trabalho e, numa concepção mais material do conceito de trabalho, podemos dizer que o Capital é um sistema de alienação, tanto do movimento individual quanto coletivo.

O deslocamento que a classe trabalhadora reproduz em seu dia-a-dia é como uma prisão da experiência, uma conformação não só dos sentidos, mas também do corpo humano. Nos momentos em que a classe protesta e intervem com atos inesperados nas ruas, no seu espaço de trabalho, querendo transformar as relações que vivem, algo estranho ocorre para a maioria dos que estão conformados com o seu cotidiano individual e com a confiança da reprodução das funções de cada lugar que freqüentamos no nosso cotidiano individual: o “algo estranho” que acontece é justamente o piquete, a greve, o movimento que aparece agora e não aparecia antes.

A Arquitetura lida com estas questões e por isso podemos entender que ela também expressa a exploração do sistema ao qual estamos submetidos. Ela é um projeto que se instaura fisicamente no nosso dia-a-dia e que permite a criação de espaços freqüentáveis. Se há pessoas ali, há política. E o próprio projeto do espaço freqüentável - o pra que ele serve - pode nos denotar uma espécie de tentativa de aprisionamento dos movimentos do trabalhador. Como provocação podemos fazer a seguinte pergunta: é possível falarmos de um mercadoria espacial? Os movimentos individuais humanos estariam tão presos a reprodução do Capital que apontariam para uma espécie de valor de uso dos espaço?

A essas perguntas que poderiam surgir ao estudarmos a arte Arquitetônica, sobre o prisma das análises do texto de Adorno e Horkheimer “A Indústria Cultural: O esclarecimento como mistificação das Massas” respondo: não, a Arquitetura, assim como qualquer arte, não podem ser cristais funcionais que só expressam as destorções do Capital. Toda arte, assim como todo tipo específico de trabalho, é um movimento num espaço político de disputas.

Os espaços, por mais distintos que sejam, não são trocáveis como as mercadorias. Podemos alterá-los, e inevitavelmente fazemos isso, mas eles não expressão o definitivo aprisionamento dos seres ao sistema capitalista.

Termino, com toda certeza, incompletamente esse texto, imaginando a importância da frase de Rosa Luxemburgo: quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem